domingo, 29 de setembro de 2013

O MOMENTO HOJE



Busco o instante doce
O momento hoje
O que em mim é inesperado.

Sinto a brisa gelada
Reparo o som da gargalhada
O amargo do café

Vivendo de fé e agora
Não vejo passar a hora
Agora que hora não há

É como se fora do tempo
O dia revelasse a aurora
Lá fora meu dentro
Esse lugar

Sou esse cão que ladra constante
Aquele galo distante
Minha memória do antes
Toda saudade que há

Sou os olhos atentos e noturnos do gato que na frente está
A esperança da gente de no céu chegar

Em cada estrada que passar
Estará lá tudo de mim
Tudo que devo encontrar
Me ensinando que a vida é assim
Esse eterno desvendar
Se eu quiser nunca terá fim
Se eu quiser pode tudo acabar

sábado, 14 de setembro de 2013

ZILDA




Era uma vez uma moça simples, que aos 9 anos perdeu sua referência de pai. A mais velha de 4 irmãos, os restantes do sexo oposto.

Era uma vez uma menina que foi à escola aos 11 anos e aos 15 se despediu de sua mãe.

Ela se apaixonaria um ano depois pela primeira vez. 

Eram beijos furtivos por detrás da roseira branca. 

Ele, um moreno cheiroso que beijava bem. 
Dez anos mais que ela. 
Um amor de verão e inverno, um amor de cartas de amor, um amor, único amor.

E ela não era a única do danado pé de valsa, fogo livre, passarinho de galho em galho que ora pousava em seu canteiro fazendo juras de amor.

Ela se casaria com ele. Até hoje, 70 anos depois, ela se casaria com ele. Fugiria com ele se não fosse errado, ou se não fosse tão correta. 

Cinco anos durou a maior aventura de sua vida, entre cartas e beijos escondidos de um homem passarinho.

E ela se permitiu sonhar e se permitiria a vida inteira esse vôo.

Quando ele foi embora ela disse que não seria mais de ninguém. Revoltada com os desejos do tempo que nada tinham a ver com seus desejos íntimos, trancou-se por três anos. Até um novo moreno cortejá-la. O sobrinho do passarinho, três anos menos.

E ela não quis mais saber de esperar. Foi um ano de namoro e um de noivado e lá estava ela atrelando seu destino a alguém, cuja união semearia duas vidas: um homem, meu pai, e uma mulher, minha tia. 

Foram 23 anos de uma vida tranquila  na recém inaugurada Brasília. Chegaram na década de 70. Pode-se dizer – Candangos – aqueles que acreditaram em Brasília quando Brasília era barro.


E se foram os anos e Brasília é asfalto e ela... Ela é uma menina de quase 80 anos que voa todos os dias detrás de suas roseiras imaginarias...