...O ser humano é uma corda estendida entre o verme e o
super homem...
Nietzsche, em Assim falou Zaratustra
Tens medo de altos vôos, medo da altura e da profundidade.
Tu devoras a tua felicidade. Nunca fostes capaz de gozá-la com plenitude. É por
isso que a devoras avidamente, sem sequer assumir a responsabilidade de a
assegurares. Nunca foi permitido aprender a cuidar das tuas alegrias, a
alimentar a felicidade como o jardineiro o faz com tuas flores, como o homem da
terra as suas colheitas. É fácil devorar a felicidade na tua companhia, mas é
difícil protegê-la.
Entras em pânico a cada vez que sentes os impulsos
primordiais do amor e da dádiva. É por isso que tens medo de dar. A tua
permanente avidez só tem um significado: te sentes vazio, esfomeado, infeliz,
ignorante, temendo a sabedoria. É por isso que foges da verdade, ela poderia
fazer-te amar.
Tens um medo mortal da tua própria profundidade, por isso
nem sequer a sentes. Temes a queda e a perda da tua individualidade, quando só
terias a ganhar com o abandono.
Viverás bem e em paz quando a vida significar para ti mais
do que a segurança; o amor mais do que o dinheiro; a tua liberdade mais do que
as linhas diretivas do governo que eleges; quando a tua forma de pensar estiver
de acordo com tua forma de sentir; quando for possível reconhecer os teus dotes
a tempo e reconhecer a tempo o teu declínio, a tua velhice.
Plantei a semente de palavras sagradas neste mundo.
(Fragmentos do texto "Escuta Zé Ninguém", de Wilhem Reich