sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fim

O som da noite de sexta entra pela minha varanda como algo distante que não me seduz.
Ocupo meu tempo tentando encontrar o livro que me dirá aquelas palavras afáveis... Procuro por ele: Galeano. Ele tem o poder de incendiar meu peito e me encher de luz com seu modo de ver a vida e as mulheres...

Acabo de terminar um outro livro e a sensação é de cumplicidade e vazio. A folha branca da última página me anuncia o fim de um encontro. A menina é doce e tenta conhecer o amor de um modo um tanto quanto peculiar. Eu mesma me lembro de como foi pra mim conhecê-lo, nobre luz. Quando ela finalmente o encontra, ele diz o seguinte:

"Tem duas condições para você não me perder e eu não perder você: você não pode se sentir prisioneira, nem de mim, nem do meu amor, do meu afeto, de nada. Você é um anjo que deve voar livre, nunca vai poder permitir que eu seja o único objetivo da sua vida. Eu te amo e vou te amar mesmo quando nossos caminhos se dividirem"

Nesta sexta feira consoante, encontro eco nas vozes silenciosas dos livros. Reconcilio-me com o lado mais belo e profundo de mim... Quando me lembrar o nome do que me emociona, colocarei aqui, na rede efêmera e potencial. Boa noite.

domingo, 25 de setembro de 2011

Aquilo que fui

...faço lenda dos meus sorrisos...

...meu destino é de papel...

Gosto do sabor do vento, do jeito que me amacia como se a eternidade fosse apenas um detalhe, que não me ocorre.






sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Querer-Precisão"

Imagem: Cristina Fitas

Pai, me ensina a ser bailarina?
Pai, me ensina a ser...

Baila a rima e meu corpo tece tesão
Sou só as curvas de um gesto sereno
Sou só gestos.
Sou só e giro
Sou só e me atiro.
O caminho dela é horizontal
No pé descalço não cabe sapatilha
A ponta aponta câimbra
O deus dela tá no chão.
E a conexão é horizontal.

Mãe, ensina a me livrar do meu "querer-precisão".

sábado, 17 de setembro de 2011

Canyon

Boiando na vastidão de suas arestas
Mergulhada nos teus vãos de umidade rara


Sou fenda, rachadura negra
profundo eterno escuro perturbador e calmo
Potencia de curas carnais
Volúpia
Curvas de pedras doces
irmã de estilosas ervas
Mata densa desnuda
Firmeza no pé
Incerteza da ação precisa
Ela precisa falo
falar lambuzadamente dos negros vácuos
Volúpia da velha bruxa bela
Umidade de refresco
Rara cara de transições lunares.
Ela minguará bonita, aflita, desdentada e nunca só.
Tem a fineza do entre.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Conversa Fértil



  • - eu lembro! só pensei que podia ter a janela virada pro meu apartamento. e a janela ser uma janela que tem um lustre que parece a lua e que eu sempre fiquei me perguntando quem morava lá.

    - Lá deve morar uma velhinha de cabelos bem brancos e andar vagaroso, passa o dia esperando a noite chegar para contemplar seu lar à meia luz, é este o melhor horário para sua imaginação, ela se masturba, faz ovos fritos e inventa músicas da pesada, tudo em silêncio. A melodia muda embala ela. Mas o que ela mais gosta de fazer é ler livros à luz da lua.

    - será que ela também me olha e se pergunta na madrugada de quem é aquele cigarro insône? e se pergunta e se cansa e se dorme. mas agora não sei, há um árvore que tampa nossa visão. e desconfio eu que ela cresceu nessas últimas semanas que não olhei pra janela... a dor da gente não sai no jornal.

    - Ontem tinha um lustre no céu

domingo, 4 de setembro de 2011

Sementes do Vento



Ela achava que tinha aprendido a emocionar os outros, mas fazer rir ainda seria uma caminhada de aprendizado e auto-conhecimento. Ironicamente ganhara dois prêmios com uma personagem cômica. Era a vida dando os sinais de seus rumos preciosos e ocultos.

Ela ficou pensando um pouco nele... Havia atração e retração entre eles... Mas ela não se importou muito, está doce e bem e por estar muito interessada nos seus próprios processos, também é cúmplice dos alheios.

Ela realmente não se importa. O outro é um oceano de afetos que nunca alcançamos por completo, apenas podemos fruir de alguns fluxos de encontros.

Ela queria se entregar mais, busca ávida por intensidades... Mas a dúvida também é uma intensidade e as reticências um caminho.

Na verdade ela está aprendendo que não controla nada e isso a redime e a relaxa aos poucos.

Ela está crescendo... Ele parecia que já tinha crescido, mas ela assistiu a peça dele e viu que não, aí se sentiu mais próxima dele.

Por vezes ele parecia uma fortaleza, mas ela viu algumas lágrimas saindo do olho dele. E pôde perceber as angústias do homem, pai, ator que precisa prosseguir.

As novas configurações da vida são um tanto quanto perturbadoras.

Ela viu o pai tentando dar passos ao lado da filha e não soube dizer quem segurava quem e os dois caíram juntos. "Isso é poesia!"

Ela se lembrou do pai dela, ele chora que nem criança quando eles bebem juntos. Um choro de admiração, espanto e melancolia. Ele julga que não viveu o suficiente ao lado dela, pois teve que se separar de sua mãe quando ela tinha apenas seis anos. Um dia ele contou isso pra ela, ela se lembra bem: um dia de samba, sol e cerveja, olhos vermelhos e úmidos. Ela não entendia porque o pai tinha passado 11 anos ao lado da mãe de seu filho mais novo, num relacionamento não muito feliz. Ele disse que queria ver o filho crescer de perto, bem perto. Ela chorou e entendeu.

Ela sempre foi mais velha que o pai dela, sempre o aconselhou e ela parecia ser a única pessoa que ele realmente escutava. Mas a menina foi criada pra ser do mundo e o pai dela sempre a deixava ir, peito apertado acenando e aplaudindo.

O nome da filha dela ia ser Marina...
Ela tem dois cds dele...
Ela decorou uma música dele...
Sete anos depois eles se encontraram e dançaram...