terça-feira, 12 de agosto de 2014

Álvaro de Campos em sua histeria divina!!!

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiquês humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultâneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,

Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora,
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora dele há só ele, e tudo para ele é pouco.

Cada alma é uma escada pra Deus,
Cada alma é um corredor-universo para Deus,
(...)
Toda Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!

(...)

Ó Terra, jardim suspenso, berço
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!
Mãe verde e florida todos os anos recente,
(...)

Grande coração pulsando no peito nú dos vulcões,
Grande voz acordando em cataratas e mares,
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,
Em cio de vegetação e florescência rompendo
Teu prório corpo de terras e rochas, teu corpo submisso
À tua própria vontade transtornadora e eterna!
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,
Que perturba as próprias estações e confunde
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!

(...)
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!
Como uma espada transpassando meu ser erguido e extático,
Intersecciona com meu sangue, com minha pele e meus nervos,
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre.

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, não quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito estoura
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem em baixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por  uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo, para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

(...)

Dentro de mim estão presos a atados ao chão
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios que se precipitam.

A chuva como pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar minha alma.
Ruge, estoura, vence, quebra, estrondeia, sacode
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,

Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo meu corpo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!

Uma vontade física de comer o universo
Toma às vezes o lugar do meu pensamento...
Uma fúria desmedida
A conquistar a posse como que observadora
Dos céus e das estrelas
Persegue-me como um remorso de não ter cometido um crime.

sábado, 9 de agosto de 2014



Pintou as unhas para se masturbar
Sentou na saia para se roçar
Abriu as pernas e seu feminino exalou pelo ar!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Paraty

Paraty



Ponto de partida
Passagem de ida
Começo da vida
Nenhuma ferida

Para ti essa cidade
Pára aqui nessa cidade
De muita idade
Abriga Trindade
E uma infinidade de beleza

Encontro das águas
Encontro-me na natureza
Terra eterna regada
Brota fruta do nada
E eu contemplo calada
Colada nas águas
A escorrer com o Rio
E me derramar no mar

Terra do Sono
Praia sem dono
E eu em abandono
Fazendo plano de viajar

Mas Paraty deve chamar Páraqui
Para ti esta terra, ri
Vi
Voltei
Fiquei
Não sei
Amei...

(2006)