quinta-feira, 17 de novembro de 2011

MULTIPLICIDADE DE PERSONAS, EXPERIMENTAÇÃO ALEATÓRIA DE PAPÉIS



Ela e seus muitos pensamentos, uma casa harmonicamente desordenada e inspirações latentes...
A chuva cai sonoramente do lado de fora. A natureza lentamente orquestra o porvir.
Ela encarna tantas! Há uma força voraz que ela tem que aprender a dominar.
As muitas se manifestam perversamente escancarando na cara a dinâmica das metamorfoses. Elas são belas feras fazendo caretas simbólicas altamente magnéticas, concentram em si toda força básica do universo. A chuva anuncia as muitas quedas e o enxague. Ela soa, voa, escoa... Elas se dissolvem num todo e um rosto de mulher sorri ao fundo como se tudo isso a construísse plena.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011



Ele nunca soube o nome dela. Apenas que tinha uma cizatriz no queixo e que quando a viu chegar as pernas bambearam. Mas jamais vai esquecer da paisagem que ela pintava em seu peito. As lembranças eram força potente e avassaladora, se impunham sobre o agora.

E essa saudade ia ficar imprimida para sempre nos vãos de sua história.

(Sobre lembrar do que me emociona. "A moça da cicatriz no queixo", Eduardo Galeano.)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

RAINHA DE COPAS






As emoções transbordam e eu fico atenta ao meu pulsar. Não controlo nada, ao contrário do que minha doce, equivocada e caprichosa criança quer. Ela quer ser única, o centro das atenções, quer encantar e compartilhar seus mundos imaginários.

Tudo é doce e irmão meu, tudo em abundância, em sincronia com os poderes da terra. Nada sei, apenas sinto o poder em minhas mãos querendo jogar. Respondendo aos meus apelos. Minhas intenções se movem pelo mundo fazendo magia. Dançando e brincando com os desejos, sem estar bem certa que o faz de fato.

Meu pensamento é livre e transborda nestes dias de boa companhia. Partilho luz. E tudo me soa fielmente sagrado. É tempo de encontros, de despertar caminhos. É tempo de manifestação. Reúnem-se as almas afins querendo girar e dançar com o universo. Lançando-se no fluxo pleno e eterno.

Há uma corrente de luz perto de ti. Baile esta ciranda, atenda aos apelos do teu corpo que te movimenta, que te alquimiza, que vive contigo respirando os átomos, querendo dançar a melodia divina que põe tudo serenamente bem e atento em seu único e inevitável lugar, sabendo que a sombra é seu próprio negativo e ela impulsiona a luz, como um trampolim.

Amo minhas linhas. É certo que as amo? Então porque as enfraqueço com dúvidas desengonçadas e infantis? Para testar sua força? Não sei de nada, apenas sinto a vastidão de mim engolindo tudo - o meu passado e o meu futuro de uma vez só - dilatando o presente. Onde todos se reúnem para comer, compartilham suas experiências, tomam uns mates e fumam sua erva no melhor dos refúgios.

Lá fora insiste uma tempestade úmida, como se o universo controlasse o meu destino. O cheiro de ti exala por meus poros. Lembro-me dos teus olhos doces e agradeço por estar aqui, regando minhas flores do teu vermelho. O que virá, não sei, mas sei que também é irmão meu e o convidarei para entrar e compartilhar sua luz e sua sombra. Para que fiquemos cada vez mais fortes, nutridos de agora. Emaranhados nessa teia sábia e abundante, mãe criadora, nave de manifestação de poder.

Sou sua filha, niña encantada, encantada e sempre agradecida, tu me ofertas água e jorro. A terra é doce pra quem sabe mirá-la. A terra é doce e de mim escorre mel e vinho e bons perfumes que te procuram, profundidade. Buscam a rainha de pés molhados e olhar fixo na taça transbordante. Rainha cujo semblante é fluxo e liberdade. Seduz o coração do guerreiro, o faz encarar os mistérios de seu próprio ser, cuja vastidão é entrega feminina. Imensidão que ele há de descortinar com sua musa gris - ela sobe com asas grandes e levanta o vôo da visão: desperta a criança que acredita em milagres, aquela que entende que o instante é e sempre foi a eternidade.

Necessita-se entender a sombra, deixar ir o feio e o que não serve mais, para fazer esse sumo girar no universo novamente e que ele encontre sua casa de luz e alimento pra alma, que algo lhe sirva de impulso.

Quanto a ti, niña equivocada e deslumbrada, segue acreditando no seu reino de sutilezas, segue, que sua rainha há de despertar muitos perfumes, estes que o vento de ti levará aos teus horizontes, despertando-os, fazendo-o caminhar para ti, magnética.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Paradoxos, contradição...






Faz tempo que não sinto a melancolia partir...
Dias estranhos esses..
Não sei se bem, se bem há
Há esse estado desengonçado de movimento pulsante que gera a vida
Essa mistura de dor e prazer que cai e flutua ao mesmo tempo
Rarefeita e densa
Imensa
Inorgânica, imaterial
Positiva pelo negativo
Dialética estética inalcansável
Que paira e não sai do lugar
Rumo ao infinito evolutivo

Faz tempo que o daqui a pouco era
Esse tempo que não cabe em mim
Me envolve numa dança inerte
De fantasia e verdade
Flerte de consciência
Transcendência


Sou isso em abandono
Poeira levantada
Rastro de luz
Passos na areia

Sou cola velha
Rabisco errado
Fio desencapado

Sou só
Rugas, celulite, gastrite
Sou o corpo que perece
Que adoece
A lágrima que cai
Sorriso desmanchado
Água que escorre
Cisco no olho
Vento na cara
Arrepio antecipado
Pés descalços
Atenção
A tensão
Intenção
Emoção

Sou quem experimenta
A crueza, a beleza
O oscilar da alma em desengano
Sou eterno abandono

Sou tudo de velho



Sou o desgaste da sua poltrona


Sou o que vem a tona





Imprevisível

Instável

Acuável

Vulnerável Imperfeição

Sou o que não se move
O que não socorre
Teu patrão

Sou isso que oprime
Que não se redime
Nem com o canhão

Sou morte lenta

Paradóxos, contradição...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fim

O som da noite de sexta entra pela minha varanda como algo distante que não me seduz.
Ocupo meu tempo tentando encontrar o livro que me dirá aquelas palavras afáveis... Procuro por ele: Galeano. Ele tem o poder de incendiar meu peito e me encher de luz com seu modo de ver a vida e as mulheres...

Acabo de terminar um outro livro e a sensação é de cumplicidade e vazio. A folha branca da última página me anuncia o fim de um encontro. A menina é doce e tenta conhecer o amor de um modo um tanto quanto peculiar. Eu mesma me lembro de como foi pra mim conhecê-lo, nobre luz. Quando ela finalmente o encontra, ele diz o seguinte:

"Tem duas condições para você não me perder e eu não perder você: você não pode se sentir prisioneira, nem de mim, nem do meu amor, do meu afeto, de nada. Você é um anjo que deve voar livre, nunca vai poder permitir que eu seja o único objetivo da sua vida. Eu te amo e vou te amar mesmo quando nossos caminhos se dividirem"

Nesta sexta feira consoante, encontro eco nas vozes silenciosas dos livros. Reconcilio-me com o lado mais belo e profundo de mim... Quando me lembrar o nome do que me emociona, colocarei aqui, na rede efêmera e potencial. Boa noite.

domingo, 25 de setembro de 2011

Aquilo que fui

...faço lenda dos meus sorrisos...

...meu destino é de papel...

Gosto do sabor do vento, do jeito que me amacia como se a eternidade fosse apenas um detalhe, que não me ocorre.






sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Querer-Precisão"

Imagem: Cristina Fitas

Pai, me ensina a ser bailarina?
Pai, me ensina a ser...

Baila a rima e meu corpo tece tesão
Sou só as curvas de um gesto sereno
Sou só gestos.
Sou só e giro
Sou só e me atiro.
O caminho dela é horizontal
No pé descalço não cabe sapatilha
A ponta aponta câimbra
O deus dela tá no chão.
E a conexão é horizontal.

Mãe, ensina a me livrar do meu "querer-precisão".

sábado, 17 de setembro de 2011

Canyon

Boiando na vastidão de suas arestas
Mergulhada nos teus vãos de umidade rara


Sou fenda, rachadura negra
profundo eterno escuro perturbador e calmo
Potencia de curas carnais
Volúpia
Curvas de pedras doces
irmã de estilosas ervas
Mata densa desnuda
Firmeza no pé
Incerteza da ação precisa
Ela precisa falo
falar lambuzadamente dos negros vácuos
Volúpia da velha bruxa bela
Umidade de refresco
Rara cara de transições lunares.
Ela minguará bonita, aflita, desdentada e nunca só.
Tem a fineza do entre.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Conversa Fértil



  • - eu lembro! só pensei que podia ter a janela virada pro meu apartamento. e a janela ser uma janela que tem um lustre que parece a lua e que eu sempre fiquei me perguntando quem morava lá.

    - Lá deve morar uma velhinha de cabelos bem brancos e andar vagaroso, passa o dia esperando a noite chegar para contemplar seu lar à meia luz, é este o melhor horário para sua imaginação, ela se masturba, faz ovos fritos e inventa músicas da pesada, tudo em silêncio. A melodia muda embala ela. Mas o que ela mais gosta de fazer é ler livros à luz da lua.

    - será que ela também me olha e se pergunta na madrugada de quem é aquele cigarro insône? e se pergunta e se cansa e se dorme. mas agora não sei, há um árvore que tampa nossa visão. e desconfio eu que ela cresceu nessas últimas semanas que não olhei pra janela... a dor da gente não sai no jornal.

    - Ontem tinha um lustre no céu

domingo, 4 de setembro de 2011

Sementes do Vento



Ela achava que tinha aprendido a emocionar os outros, mas fazer rir ainda seria uma caminhada de aprendizado e auto-conhecimento. Ironicamente ganhara dois prêmios com uma personagem cômica. Era a vida dando os sinais de seus rumos preciosos e ocultos.

Ela ficou pensando um pouco nele... Havia atração e retração entre eles... Mas ela não se importou muito, está doce e bem e por estar muito interessada nos seus próprios processos, também é cúmplice dos alheios.

Ela realmente não se importa. O outro é um oceano de afetos que nunca alcançamos por completo, apenas podemos fruir de alguns fluxos de encontros.

Ela queria se entregar mais, busca ávida por intensidades... Mas a dúvida também é uma intensidade e as reticências um caminho.

Na verdade ela está aprendendo que não controla nada e isso a redime e a relaxa aos poucos.

Ela está crescendo... Ele parecia que já tinha crescido, mas ela assistiu a peça dele e viu que não, aí se sentiu mais próxima dele.

Por vezes ele parecia uma fortaleza, mas ela viu algumas lágrimas saindo do olho dele. E pôde perceber as angústias do homem, pai, ator que precisa prosseguir.

As novas configurações da vida são um tanto quanto perturbadoras.

Ela viu o pai tentando dar passos ao lado da filha e não soube dizer quem segurava quem e os dois caíram juntos. "Isso é poesia!"

Ela se lembrou do pai dela, ele chora que nem criança quando eles bebem juntos. Um choro de admiração, espanto e melancolia. Ele julga que não viveu o suficiente ao lado dela, pois teve que se separar de sua mãe quando ela tinha apenas seis anos. Um dia ele contou isso pra ela, ela se lembra bem: um dia de samba, sol e cerveja, olhos vermelhos e úmidos. Ela não entendia porque o pai tinha passado 11 anos ao lado da mãe de seu filho mais novo, num relacionamento não muito feliz. Ele disse que queria ver o filho crescer de perto, bem perto. Ela chorou e entendeu.

Ela sempre foi mais velha que o pai dela, sempre o aconselhou e ela parecia ser a única pessoa que ele realmente escutava. Mas a menina foi criada pra ser do mundo e o pai dela sempre a deixava ir, peito apertado acenando e aplaudindo.

O nome da filha dela ia ser Marina...
Ela tem dois cds dele...
Ela decorou uma música dele...
Sete anos depois eles se encontraram e dançaram...

domingo, 28 de agosto de 2011

São Paulo...São Paulo...




Mar de concretos pontiagudos
Cidade que me seduz com sua multiplicidade estonteante.
Me dissolvo neste asfalto, cimento e ferro.
Me perco nas tuas esquinas
Boteco regado a habitante
Vivo e me comovo
Insensatas e incansáveis minhas pernas promovem o porvir
Brindo tuas ruas imprevisíveis, São Paulo de encontros risíveis!
Tudo me chama palavra, tudo me convida, inclusive a cama alheia.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A FUNÇÃO DA FUNÇÃO!!!



Numa conversa com o diretor do "Tá na Rua", Amir Haddad, num encontro de teatro, ele falou sobre a teoria da clarividente Tia Neiva - responsável pela criação do vale do amanhecer, uma espécie de hospital espiritual sincrético situado nos arredores de Brasília, ver http://www.youtube.com/watch?v=dRyLLTvs00c. - Segundo ela tem teatro e artes nos planos espirituais, onde os artistas cumprem a função de elevar os espíritos apegados a sentimentos de baixa frequência que pesam o corpo astral da Terra e "encantando-os", ou "intrigandodo-os" com questões elevadas, eles possam apegar-se a sentimentos com mais luz e serem seduzidos a encarar o processo vital de outra forma.

Amir disse que veio a Brasília com um grupo que tinha dois anos de existência e estava em profunda crise. Um amigo levou-o ao Vale para conhecer. Quando encontrou aquela figura emblemática - uma candanga semi analfabeta, ex-caminhoneira de olhos que viam além e uma cabeleira preta de bruxa, de mulher que sabe... -  TIA NEIVA. Ela afirmou que faziam dois anos que  esperava a visita de um grupo de teatro e lhe contou sobre o que sabe. Ele saiu de lá modificado, com um profundo sentimento de pertencimento ao mundo, ao universo. Faz teatro de rua até hoje e diz que nunca se vendeu ao ego ou a indústria cultural. Seu negócio é com o povo, com o mendigo da rua sujo, bêbado e sem chão. Seu trabalho é encantar essas almas, colorindo um pouco seu cotidiano triste. O "Tá na rua" lançou um livro nesta ocasião e eu incrivelmente ganhei um. E na página intitulada "A Função da função" que relata este caso, existe um desenho muito bonito com pessoas em volta de artístas de rua e são vários espetáculos em uma grande praça pública. É incrível, visualmente, são círculos espirituais mesmo! Com a fonte de luz no meio. O homem criador é fonte de luz e um projeto de estrela. Acendemos estrelas!