quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Entre Ser

 Criação - Homem e Mulher - Gilvan Samico


Ela desaprendeu a ser um
Virou dois
Virou tudo
Integrou-se
Entregou-se
Entre (go!) ser

Caminha encostada na sombra do sentimento-outro
Protege-se um pouco da claridade intensa desse encontro-sol

Desde que o conheceu, seus olhos se voltam a este projeto insólito de amar
Ela caminha com esta força que colore seus dias
Ela dá passos com as mãos no bolso onde guarda seus olhos
.
Sem perceber melou suas calças do mel que exala a ternura daquele olhar.

Ela o reconheceu
Não de primeira
Mas no instante em que ele - leal - hesitou.
Ela o reconheceu pela lealdade do guerreiro com armadura na face -
aquela imagem mítica que lhe veio no momento em que se encaravam fundo, penetrados.

O tempo com ele é mítico
Impossível de enjaular nos ponteiros
que nos apontam os afazeres ordinários

O mundo com ele é outro
Meio aldeia de índio
Meio abóbodas de sacristias medievais
Meio microcosmo de divisões celulares primitivas
Meio a promessa de um futuro-filho-fruto bem vindo

Desde que se conheceram pertenceram um ao outro
E essa tomada de ser causava um pouco de vertigem

Tentaram entender, sentiram
Tentaram romper, se uniram
Tentaram esconder, descortinam.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

RECEITA PRA RINITE


SUOR E SÊMEN
SALIVA E SEDE

domingo, 2 de agosto de 2015

De um tal Lucas


Levo comigo o cheiro do meu perfume misturado à tua pele, aroma preferido.
Levo comigo um sorriso largo todas as vezes que me lembrar dos seus lábios.
Levo comigo a dialética de encontros inesperados que misteriosamente tecia o laço.

Levo duas entradas para o teatro e um olhar vermelho de Miró.
Levo as palavras inspiradas cravadas no peito.
O sabor da aventura de desbravar pelo desconhecido que é este teu reino.

Carrego um pôr do sol que te iluminava laranja e me lançava no abismo.
Aquele banho de água doce em que nos misturamos à pedra e fomos um só.
Levo comigo pássaros libertados do coração de uma santa.

"Não levo nenhuma única gota de veneno."
Levarei aquela casa leve, com uma cama pequena, perfeita pra nós dois.
Um ombro direito onde repousava meus sonhos.
Um enlace que me levava à eternidade.
Os discos, livros e poetas ressonantes...

"E é um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi."

(Inspirado no conto "A mulher que diz tchau." de Eduardo Galeano.)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

As vezes me fito abismada:
Essa que sou eu e que toma decisões
Essa que se desmancha e anda pra frente sem saber como
Essa que ama e investiga seu destino

As vezes olho o que é próximo como se fosse uma porta entreaberta
Sem vasculhar fundo esse objeto de minha de minha superficial autoridade

Entretida nos devaneios do ego
Vasculhando pouco dos outros
Pouco de fora
Egoísta,
Entretida nas profundezas de mim
Vagueio aqui
Só.
Sem olhar ao redor

Caminhando...