Era uma vez uma moça
simples, que aos 9 anos perdeu sua referência de pai. A mais velha de 4 irmãos,
os restantes do sexo oposto.
Era uma vez uma menina
que foi à escola aos 11 anos e aos 15 se despediu de sua mãe.
Ela se apaixonaria um
ano depois pela primeira vez.
Eram beijos furtivos por detrás da roseira
branca.
Ele, um moreno cheiroso que beijava bem.
Dez anos mais que ela.
Um
amor de verão e inverno, um amor de cartas de amor, um amor, único amor.
E ela não era a única do
danado pé de valsa, fogo livre, passarinho de galho em galho que ora pousava em
seu canteiro fazendo juras de amor.
Ela se casaria com ele.
Até hoje, 70 anos depois, ela se casaria com ele. Fugiria com ele se não fosse
errado, ou se não fosse tão correta.
Cinco anos durou a maior
aventura de sua vida, entre cartas e beijos escondidos de um homem passarinho.
E ela se permitiu sonhar
e se permitiria a vida inteira esse vôo.
Quando ele foi embora
ela disse que não seria mais de ninguém. Revoltada com os desejos do tempo que
nada tinham a ver com seus desejos íntimos, trancou-se por três anos. Até um
novo moreno cortejá-la. O sobrinho do passarinho, três anos menos.
E ela não quis mais
saber de esperar. Foi um ano de namoro e um de noivado e lá estava ela
atrelando seu destino a alguém, cuja união semearia duas vidas: um homem, meu
pai, e uma mulher, minha tia.
Foram 23 anos de uma vida tranquila na recém inaugurada Brasília. Chegaram na
década de 70. Pode-se dizer – Candangos – aqueles que acreditaram em
Brasília quando Brasília era barro.
E se foram os anos e
Brasília é asfalto e ela... Ela é uma menina de quase 80 anos que voa todos os
dias detrás de suas roseiras imaginarias...