segunda-feira, 31 de outubro de 2011

RAINHA DE COPAS






As emoções transbordam e eu fico atenta ao meu pulsar. Não controlo nada, ao contrário do que minha doce, equivocada e caprichosa criança quer. Ela quer ser única, o centro das atenções, quer encantar e compartilhar seus mundos imaginários.

Tudo é doce e irmão meu, tudo em abundância, em sincronia com os poderes da terra. Nada sei, apenas sinto o poder em minhas mãos querendo jogar. Respondendo aos meus apelos. Minhas intenções se movem pelo mundo fazendo magia. Dançando e brincando com os desejos, sem estar bem certa que o faz de fato.

Meu pensamento é livre e transborda nestes dias de boa companhia. Partilho luz. E tudo me soa fielmente sagrado. É tempo de encontros, de despertar caminhos. É tempo de manifestação. Reúnem-se as almas afins querendo girar e dançar com o universo. Lançando-se no fluxo pleno e eterno.

Há uma corrente de luz perto de ti. Baile esta ciranda, atenda aos apelos do teu corpo que te movimenta, que te alquimiza, que vive contigo respirando os átomos, querendo dançar a melodia divina que põe tudo serenamente bem e atento em seu único e inevitável lugar, sabendo que a sombra é seu próprio negativo e ela impulsiona a luz, como um trampolim.

Amo minhas linhas. É certo que as amo? Então porque as enfraqueço com dúvidas desengonçadas e infantis? Para testar sua força? Não sei de nada, apenas sinto a vastidão de mim engolindo tudo - o meu passado e o meu futuro de uma vez só - dilatando o presente. Onde todos se reúnem para comer, compartilham suas experiências, tomam uns mates e fumam sua erva no melhor dos refúgios.

Lá fora insiste uma tempestade úmida, como se o universo controlasse o meu destino. O cheiro de ti exala por meus poros. Lembro-me dos teus olhos doces e agradeço por estar aqui, regando minhas flores do teu vermelho. O que virá, não sei, mas sei que também é irmão meu e o convidarei para entrar e compartilhar sua luz e sua sombra. Para que fiquemos cada vez mais fortes, nutridos de agora. Emaranhados nessa teia sábia e abundante, mãe criadora, nave de manifestação de poder.

Sou sua filha, niña encantada, encantada e sempre agradecida, tu me ofertas água e jorro. A terra é doce pra quem sabe mirá-la. A terra é doce e de mim escorre mel e vinho e bons perfumes que te procuram, profundidade. Buscam a rainha de pés molhados e olhar fixo na taça transbordante. Rainha cujo semblante é fluxo e liberdade. Seduz o coração do guerreiro, o faz encarar os mistérios de seu próprio ser, cuja vastidão é entrega feminina. Imensidão que ele há de descortinar com sua musa gris - ela sobe com asas grandes e levanta o vôo da visão: desperta a criança que acredita em milagres, aquela que entende que o instante é e sempre foi a eternidade.

Necessita-se entender a sombra, deixar ir o feio e o que não serve mais, para fazer esse sumo girar no universo novamente e que ele encontre sua casa de luz e alimento pra alma, que algo lhe sirva de impulso.

Quanto a ti, niña equivocada e deslumbrada, segue acreditando no seu reino de sutilezas, segue, que sua rainha há de despertar muitos perfumes, estes que o vento de ti levará aos teus horizontes, despertando-os, fazendo-o caminhar para ti, magnética.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Paradoxos, contradição...






Faz tempo que não sinto a melancolia partir...
Dias estranhos esses..
Não sei se bem, se bem há
Há esse estado desengonçado de movimento pulsante que gera a vida
Essa mistura de dor e prazer que cai e flutua ao mesmo tempo
Rarefeita e densa
Imensa
Inorgânica, imaterial
Positiva pelo negativo
Dialética estética inalcansável
Que paira e não sai do lugar
Rumo ao infinito evolutivo

Faz tempo que o daqui a pouco era
Esse tempo que não cabe em mim
Me envolve numa dança inerte
De fantasia e verdade
Flerte de consciência
Transcendência


Sou isso em abandono
Poeira levantada
Rastro de luz
Passos na areia

Sou cola velha
Rabisco errado
Fio desencapado

Sou só
Rugas, celulite, gastrite
Sou o corpo que perece
Que adoece
A lágrima que cai
Sorriso desmanchado
Água que escorre
Cisco no olho
Vento na cara
Arrepio antecipado
Pés descalços
Atenção
A tensão
Intenção
Emoção

Sou quem experimenta
A crueza, a beleza
O oscilar da alma em desengano
Sou eterno abandono

Sou tudo de velho



Sou o desgaste da sua poltrona


Sou o que vem a tona





Imprevisível

Instável

Acuável

Vulnerável Imperfeição

Sou o que não se move
O que não socorre
Teu patrão

Sou isso que oprime
Que não se redime
Nem com o canhão

Sou morte lenta

Paradóxos, contradição...